{reflexão} a auto imagem, a sua casa e o look do dia

Certa vez a Marina, minha amiga lindsay, me disse uma verdade: na internet a gente faz as coisas pra fotografar e não pra viver. Ela disse isso quando leu um post sobre “decoração de blog para sua casa” que dizia algo do tipo “no final, fotografa pra ver se ficou bom”.

Na hora minha reação foi “Queee??? Que absurdooo!!! Blogueira notionless!!!”. Cara, eu não quero fotografar pra ver se ficou bom. Eu quero olhar pra minha sala e sentir que ela é lindinha e que meus projetinhos deram certo! Mas para pra pensar, não é isso que a gente quer? Uma casa, um look, um casamento, uma vida pra fotografar?

Tá lá no Pinterest, no Instagram e no Tumblr: a vida ideal é toda fotografável e linda. É um apartamento com decoração norueguesa, um quarto provençal, um pouco de diy e um pouco  de design assinado. Um look colorido pra você que é autêntica, um batom vermelho pra provar que não tem medo de maquiagem e um casamento com muito tom pastel, gaiolinhas de decoração e bola de sabão.

Mas, por que você quer tudo isso, o que você quer aparentar? Você é o que você mostra ou você mostra o que você quer ser?

Diz-se por aí que a moda é uma forma de expressar quem você é, de materializar o que você quer que as pessoas pensem de você. Se você usa uma jaqueta biker preta com tachas, quer passar uma imagem com um pé rocker. Se usa óculos de armações enormes, quer parecer nerd e descolada. Essa coisa na moda é tão forte que nem os desencanados escapam – afinal, eles são meticulosamente desencanados e usam roupas desencanadas porque querem que saibam não se importam com aparência. Provas? Pede pra uma pessoa desencanada usar uma peça cheia de tacha e glitter. Ela não vai conseguir, aquilo não faz parte dela. Ou seja, ela se importa com o que ta aparentando, sim. Todos se importam.

Essa coisa sobre a moda se aplica a qualquer tipo de design, de criação visual. Quando você organiza seu casamento com uma paleta pastel, quer dizer que é romântica. Quando você compra um móvel de design assinado, quer dizer que é antenada. Tudo que é visual é o que você quer ser – e não, isso não é fútil ou ruim, só é.

[Não estou falando em aparentar no sentido "fingir ou enganar", mas em usar uma de nossas formas de expressão (as artes visuais) pra transmitir um conceito do que você é e como vê o mundo.]

Mas, sendo isso bom ou ruim, isso às vezes faz a gente tropeçar. Eu, como toda mocinha com conexão e que curte um bom bloguinho, sofro um pouco da tal Síndrome de Pinterest. Tenho colagens sem fim e tento reproduzir a vida conforme elas mostram. Mas sabe qual a verdade? Não costuma dar certo.

Eu lembro quando me vi vestida de noiva pela primeira vez. Tava ali, esperando ver uma noiva em tom azulado, de batom vermelho, com um fundo blur e um quê de vintage. Mas, sabem o que eu vi? Era eu, só que vestida de noiva. Não vi nada além de eu vestida de noiva. Não era outra pessoa, não era um personagem. Era eu. Sim, foi emocionante, empolgante e eu me senti a mulher mais linda do mundo. Mas senti que a mulher mais linda do mundo era eu e não que eu estava parecendo com ela. Entendem a diferença?

Às vezes acontece quando olho pra minha casa, aquela em que eu decoro, pinto, dobro, recorto, colo, empilho e arrumo. Normalmente, tem toalha jogada no quarto, e os livros vivem desorganizados. Nem todos os títulos na estante são interessantíssimos e tem muito pelo de gato em toda parte. Nem todo café da tarde tem pratos de petit-four brancos e louças de bico de jaca. Aliás, às vezes, a gente come pizza na cama, com guardanapos.

A decoração do meu casamento era uma decoração, apenas. Colorida, como eu gosto, com fotos nossas adoráveis. Linda, como eu sempre sonhei. Foi mágico, foi um sonho. Mas na foto ela, claro, dá uma sensação de perfeição muito maior do que a que você podia perceber ao vivo. Ao vivo, tinha defeitinhos, claro. Ninguém reparou, ninguém reclamou, só recebi elogios. Ninguém se divertiu menos com a visão sem filtros Instagram.

E tem também o caso que eu passei esses dias, quando vi uma foto de uma menina com uma touca muito cheia de estilo no Pinterest e resolvi que eu queria usar touca. Na fotografia eu tava gatíssima e estilosa. Mas na vida real fiquei parecendo uma pasteleira e não uma super cool trendy girl do tumblr. Porque na vida real isso tudo causa muito mais estranheza.

E eu não tenho me importado muito com isso, sabe? Por mais que minhas fotos e referências me inspirem a compor meu mundo, a usar calças coloridas e comprar louças shabby chic, tem um pensamento que eu tenho tentado ter:

A vida, ela é 3D. O bolo queima, o corpo engorda e o batom vermelho borra muito. O delineado sai até o fim do dia e, às vezes, eu não to na boa pra lavar roupa. Usar salto é desconfortável pra dirigir e um suplício no ônibus, mas às vezes eu quero ser a poderosa da festa e vou usar (e aguentar as bolhas depois). Meu apartamento tá cheio de caixa. Eu acabei de mudar, a decoração não vai ficar pronta de um dia pro outro. Na verdade, vai demorar meses pra todas as paredes terem as cores que eu quero. E isso é ok. Isso não me faz desistir de tentar ter uma vida mais bonita e nem tão pouco achar que eu falhei.

Porque o gostoso é experimentar roupa nova, fazer artesanato, testar maquiagem e ver como fica em você. Como fica no Tumblr é só uma consequência.

E depois de aprender isso, fica até mais fácil fazer carão pra foto e postar as coisinhas da casa no WordPress. Porque você perde a obrigação da perfeição, o medo de ser ridícula. E sabe quando fica divertido de verdade? Quando você posta sua vidinha normal e sem glamour, e vem uma Babs <3 lá de Minas te comentar que seu noivado foi muito Tumblr e que tudo veste bem em você.

Sabe o que eu aprendi tendo blog? Que as blogueiras não são mais bonitas, mais habilidosas ou mais especiais. Elas só postam as fotos dos melhores momentos. Todas nós somos humanas e temos horas ruins. Afinal, são elas que fazem os momentos fotografáveis serem tão especiais, né?

Concorda?

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